domingo, 18 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 5 - Um dia muito, muito difícil

Saímos de Arica pela manhã, em direção a La Paz. A caminho de Putre, vimos uma estrada soberba, definida pelo companheiro Alex Brito como a estrada mais linda que ele já havia visto em toda a vida, e mesmo sendo essa uma experiência pessoal, a estrada é realmente de cair o queixo.

Montanhas fantásticas, uma estrada sinuosa que em momentos se sobrepõe às montanhas envoltas em nuvens, e nós lá, vendo tudo isso de cima. Um verdadeiro espetáculo, que vocês poderão degustar em foto e vídeo.

Entretanto, beleza não é tudo, e a vida é feita também de dificuldades, e nesse dia tivemos muitas. Em meio a uma estrada muito boa, encontramos dois inesperados trechos em obras, de terra da pior qualidade, de 15 e 35 Km respectivamente, e eles não foram percorridos sem consquências. Infelizmente numa passagem sobre o cascalho, perdi o equilíbrio e a moto apontou para a valeta, corrigi o gridão e acelerei de leve para retomar o controle, mas sobre cascalho uma moto de 102 cavalos tem reações um tanto bruscas, a roda traseira deslizou e o resultado: chão em grande estilo, ainda que apenas a 35 Km/h.

O tombo em si não foi grave, sendo as sequelas físicas irrelevantes (dor na perna e nas costas, sem qualquer gravidade). Já as consequências materiais foram bem mais sérias: uma pedra entortou o disco dianteiro esquerdo, e a mesma pedra ou outra furou o canto do radiador, a bolha quebrou, o slider esquerdo foi destruído, a extensão do pedal de embreagem dobrou, várias partes da lateral rasparam o chão (ponta da bengala, tampa do motor, ponta da balança).

Como precisaríamos seguir viagem de qualquer forma, a solução encontrada pelo Ruy (sempre ele, com toda sua experiência) foi afastarmos as pastilhas do disco torto, e seguir viagem com a moto sem usar o freio dianteiro. Isso seria menos difícil em estradas retas, mas cruzando a cordilheira foi bem desafiador. Valeu a experiência com a Hornet, e felizmente consegui pilotar a moto por cerca de 100 Km em bom ritmo usando apenas freio motor e o freio traseiro, até chegarmos à fronteira do Chile com a Bolívia, em Tambo Quemado. Como veria depois, esse esforço teria um preço não só nas pastilhas de freio traseiras, mas principalmente na durabilidade da corrente, que já não estava nova, e teve seu processo de fim de vida muito acelerado.

Antes da fronteira boliviana, muito frio e altitude, e algumas das vistas mais sensacionais que tivemos de presenciar. Notadamente, um conjunto de lagos azuis à beira da estrada, a mais de 5.000 metros de altitude, pontuados por montanhas geladas de beleza impressionante. E tudo isso num dia claro, com um céu tão azul que parecia não ser de verdade. Essa estrada também deve ser conhecida por todo viajante, pois foi uma das partes mais lindas da viagem até agora, mas honestamente, ao fazer de novo eu iria até a aduana chilena e voltaria sem entrar na Bolívia, e na sequência do relato será possível entender a razão.

Infelizmente nem tudo são flores, e na chegada à fronteira conhecemos a famosa burocracia boliviana: horas perdidas em meio a formulários, fotocópias, reconhecimento de firma, vai para lá, volta aqui, e até mesmo a cobrança de um "pedágio" por um agente fardado, o que nos atrasou muito, sendo que já estávamos atrasados pelo tombo, que me obrigava a andar devagar.

Afora isso, tivemos problema na aduana chilena, pois o companheiro Balão foi surpreendido com a notícia de que ao entrar no Chile o funcionário da aduana fizera todos os procedimentos, mas esquecera de carimbar seu passaporte e documento de entrada no país, situação resolvida com alguma conversa e tempo perdido junto aos oficiais chilenos.

Em meio a isso tudo, a altitude fez suas vítimas, deixando primeiro o Renan e depois o Luís bastante prejudicados, e alguns dos demais com bastante desconforto. Com isso, já caindo a noite, nos restou pernoitar em Tambo Quemado, um povoado que fica junto à aduana boliviana, uma cidade de uma pobreza impressionante. Tudo que conseguimos foi um alojamente, com duas ou três pessoas por quarto, e banheiro comum no fim do corredor. Noite muito fria, difícil, mas muito melhor que uma terrível experiência de encarar o frio da noite no deserto. Serviu ao propósito, mas não foi muito confortável, especialmente pelas camas "em concha", que afundavam ao deitarmos sobre elas, o que no meu caso foi bastante doloroso em função do tombo.

De positivo, além das paisagens inesquecíveis, o fato de que meu tombo não teve maior gravidade, a moto continuou rodando apesar de estropiada, e conseguimos um local seguro para passar a noite, o que nas condições em que nos encontrávamos era um alto lucro.

O amanhecer em Arica, olhando o Pacífico pela janela do hotel (foto: Luís Lacerda)

O destino é Putre, em direção à Bolivia (foto: Luís Lacerda)

Vendo as nuvens de cima, e Roberto como um pontinho preto na paisagem (foto: Luís Lacerda)
Formações inacreditáveis (foto: Luís Lacerda)

Esse foi o conjunto de lagos mais bonito que vimos em toda a viagem (foto: Volmir Ferreira)

Montanhas geladas e lagos de um azul cristalino (foto: Luís Lacerda)

Volmir e Luís em frente a lagos e montanhas geladas na fronteira Chile/Bólívia (foto: Roberto Saggin)

À beira da estrada, muitas fotos (foto: Luís Lacerda)

 Algumas vezes a estrada parece seguir para o infinito (foto: Luís Lacerda)

São tantas curvas que a estrada se torna surreal (foto: Luís Lacerda)

A cada beleza que passa você se vê frente a outra, entre tantas cores e formas  (foto: Luís Lacerda)

Deveria ser asfalto, mas a realidade nem sempre é o que se espera (foto: Luís Lacerda)

É tudo tão diferente e bonito que chega a não parecer realidade (foto: Luís Lacerda)

O ser humano se torna minúsculo frente à imensidão da natureza (foto: Luís Lacerda)

Detalhe do azul dos lagos quase na fronteira entre Chile e Bolívia (foto: Luís Lacerda)

Entardecer frente à hospedagem em Tambo Quemado, já na Bolívia (foto: Luís Lacerda)

11 comentários:

  1. Caros Volmir! Que beleza de viagem e de relatos! Estamos torcendo por vocês! Abraço a todos-Alex Brito

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  2. Volmir,

    Parabéns pelos relatos, faz com que a gente também faça parte do grupo. Sucesso para todos, e boas estradas para vcs.
    Votoni - Curitiba

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  3. Gracias, amigos. Estamos em Puno e muito bem, e cedo vamos a Cuzco. Abraco e até breve, tentando colocar relatos em dia.

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  4. Parabéns pelos relatos e fotos, tudo muito bom...

    Também vou passar por esses caminhos, só que de SPA vou para Uyuni...

    E os problemas com gasolina nos postos? resolvido?

    Abraço e Boa sorte

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  5. Muito bom, belas fotos, acho que vou começar a planejar minha viagem tbm.

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  6. Volmir, FORCA MEU IRMAO DA ESTRADA!!!! Todo obstaculo superado 'e um capitulo da historia.

    SEM SACRIFICIO NAO HA CONQUISTA!

    Viu os adesivos da Expedicao Fenix pelo caminho na ARgentina?

    Saimos na MOto Adventure deste mes!!! quando chegar ao Brasil, veja!!!

    Grande Abraco, SORTE!!!!

    Sato // Expedicao Fenix // APM

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  7. Parabéns Volmir!
    Os tombos também fazem parte do caminho!
    Sigam no caminho, que a beleza da estrada é a recompensa dos fortes!
    Grande abraço

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  8. Marcondes, não tenho maiores detalhes da sua viagem e datas. Mas gasolina continua um problema no norte argentino, e na Bolívia também é meio complicado. Dependendo da moto que tens, um galão de gasolina adicional na moto pode te salvar. Fui salvo duas vezes pela minha Pet. Abraço.

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  9. Thiago, agradeço e te garanto que as viagens longas valem demais. Planeje com cuidado, e sobretudo não incorra no nosso erro de fazer um rallye. Faça uma viagem mais curta por vez, e conheça bem os lugares em vez de só passar por eles. Abraço.

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  10. Max, como diz o Fausto Macieira, "tombo e chuva se pega de vez em quando". Em 35.000 Km rodados eu não tinha essa experiência, agora algo mudou. Terminada a viagem, digo que valeu a pena sim, ainda que hoje faria muitas coisas diferentes. Abraço.

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  11. Sato, não vi os adesivos, aliás não vi muitas coisas na correria. Comprei a Moto Adventure, mas já vi que não é nessa. Vou procurar a edição de vocês (qual número?). Parabéns, agradeço o apoio com um abraço.

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