sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 11 - A Cidade Perdida, um lugar inesquecível

Dia de acordar cedo, para estar a postos às 04h40 em frente ao hotel, onde a van nos esperaria para o primeiro trecho da viagem até Ollantaytambo, a cerca de 60 Km de distância, onde tomaríamos o trem para Águas Calientes. Esse trecho da viagem é feito por estradas em boas condições, e vários companheiros aproveitaram para dormir uma boa parte do caminho, apesar do motorista insistir em passar rápido demais sobre alguns quebra-molas.

Em Ollantaytambo tomamos o confortável trem que faz o trajeto até Águas Calientes em cerca de uma hora e meia, juntamente com os três motociclistas de Uruguaina/RS que encontramos no dia anterior. A viagem é tranquila e bonita, com grande parte do trecho tendo um rio acompanhando a ferrovia, e nas encostas das montanhas já se pode ver algumas ruínas que prenunciam o que veremos mais tarde.

Águas Calientes é basicamente uma base de operações para acessar Machu Picchu, tomada de vans que fazem o transporte contínuo dos turistas até o santuário. Existe um hotel na cidade, onde alguns preferem pernoitar, o que permite ver o nascer do sol em Machu Picchu, que dizem ser uma experiência bastante interessante. A cidade tem um forte comércio voltado aos turistas, ainda que a grande quantidade de lojas não se reflita em variedade de produtos, já que praticamente em todas as lojas se encontram os mesmos produtos, num contexto de mínima diferenciação. Os preços são altos para o padrão peruano (baratos para brasileiros), mas a qualquer pechincha os vendedores já saem fazendo abatimentos de 30% ou mais.

Depois de encontrarmos o guia na estação, tomamos a van que faria o curto trajeto ao alto da montanha, uma estradinha de terra não totalmente destituída de emoção. As vans andam rápido, e em alguns momentos param para dar passagem a quem vem no sentido contrário, pois em muitos trechos só passa um veículo por vez. Tudo parece funcionar bem nessa subida de pouco mais de 10 minutos, mas vimos algumas vans com parabrisas quebrados, o que mostra que às vezes algo dá errado. A estradinha é bonita, serpenteando a montanha, e na fase final já somos brindados com a primeira vista de Machu Picchu, da parte mais baixa das encostas, mostrando apenas uma pequena parte das construções.

No alto da montanha encontramos a jovem guia peruana, que pode ser vista nas fotos, que cobria o corpo todo e usava um enorme guarda sol, segundo ela para evitar os riscos da exposição continuada a excessos de protetor solar. Aliás, boné, protetor solar e repelente para mosquitos são itens indispensáveis para essa visita, e até mesmo uma capa de chuva, se bem que nós tivemos sorte de pegar um dia de tempo bom e sem sol em excesso. E o fato de visitarmos o local fora da alta temporada foi positivo, já que a guia confirmou que estavam no local apenas cerca de 40% do normal de visitantes em alta temporada, o que para nós se traduziu num dia tranquilo e sem atropelos.

O acesso ao parque é organizado, sendo necessário apresentar o ingresso juntamente com o passaporte para passar o ponto de controle. E acompanhados pela atenciosa guia peruana, começamos a visita que seria o ponto alto dessa viagem. Aliás a guia era tão prestativa que quase parecia não se incomodar com o excesso de pedidos para as mesmas fotos serem tiradas com 4 ou 5 câmeras diferentes, o que para mim se constitui numa situação repetitiva e desnecessária.

Machu Picchu é um local diferenciado, e que "toca" as pessoas de maneiras diferentes. Existem os místicos, que visitam o local repetidamente, em sucessivos atos de contemplação e meditação. Existem os mais ligados ao contexto histórico e cultural da cidade, para quem conhecer um pouco mais dessa cidade tão fascinante é uma experiência única e inesquecível. E existem ainda os típicos turistas, para quem o que importa são as muitas fotos simplesmente para mostrar, pouco ligando para os aspectos mais profundos do que essa cidade significa, inclusive se vendo cenas curiosas como uma mesma pessoa tirando a mesma foto trocando 4 ou 5 camisetas diferentes, numa situação bem engraçada.

Um exemplo emblemático desse último grupo foi uma frase que ouvi no local: "ah, fulano... mas se não fosse a guia para explicar, realmente isto aqui não passaria de um monte de pedras". Por aí se vê que o fascínio por Machu Picchu muitas vezes está menos na cidade, e mais no interior (ou, no caso, no vazio interior) das pessoas que visitam.

Independente das motivações de cada pessoa, o que sem dúvida se pode dizer é que Machu Picchu é uma cidade incrível, de profundo significado cultural e histórico, e um local que sem dúvida qualquer pessoa deveria visitar ao menos uma vez na vida. As construções são fabulosas, as hipóteses sobre o próposito da existência da cidade são instigantes, e o fato de se saber que seus construtores gastaram tanto tempo e esforço para construir tal obra e pouco desfrutaram dela é intrigante.

Para mim é especialmente interessante tentar imaginar a vida das pessoas que habitavam a cidade no seu tempo, constatar sua engenhosidade aplicada às construções, seu brilhantismo ao tratar questões cruciais como o aproveitamento da água. Tentar entender a lógica da cidade, enxergar a atividade no seu dia-a-dia, imaginar o modo de vida de quem tinha o privilégio de habitar o local. Se bem que obviamente o privilégio de desfrutar era reservado a poucos, pois o trabalho era árduo, e quando a cidade foi desocupada muito ainda faltava fazer. Tanto isso é verdade que os peruanos consideram a cidade eternamente "em construção".

Curioso também é o enorme desafio peruano de equilibrar a significativa fonte de recursos financeiros em que Machu Picchu foi se constituíndo nas últimas décadas, com a inevitável necessidade de preservar esse incrível patrimônio da humanidade. Pois o fato das pessoas poderem andar livremente na quase totalidade do território sem dúvida deixa marcas, inclusive garrafas de Gatorade abandonadas junto às ruínas pelos visitantes mais mal educados. O desgaste é inevitável, e a limitação do número de visitantes e o controle mais rígido dos pontos de visitação fatalmente terão que ser impostos com o passar do tempo, tanto que isso já é uma discussão bastante presente.

Não me estenderei sobre Machu Picchu, por não ter as necessárias credenciais de historiador ou geólogo, e portanto não sendo capacitado a análises mais profundas. Creio que uma boa pesquisa no Google possa trazer várias informações relevantes para quem quiser se aprofundar sobre o tema. Do ponto de vista pessoal, posso dizer que a cidade é apaixonante, principalmente para o visitante que tentar se colocar no lugar das pessoas que lá viveram, em vez de tão somente se preocupar em tirar o maior número de fotos para poder mostrar no retorno, sem saber muito bem porque esteve lá.

A se lamentar, algumas dificuldades de mais ampla mobilidade, o que nesse lugar faz muita diferença, pois conhecer em profundidade Machu Picchu cansa. A cidade é grande, as enormes escadas são desafiadoras e depois de algumas horas você se sente esgotado. Tanto isso é verdade, que no começo da tarde alguns companheiros se entregaram ao verde gramado, tirando uma soneca no alto da montanha, o que sem dúvida se mostrou uma boa ideia.

No decorrer da tarde descemos para Águas Calientes, onde alguns se dedicaram a compras nas lojas, enquanto outros foram tomar um banho nas piscinas da cidade, opção essa que declinei pois envolvia caminhar ainda mais, e minhas condições físicas ainda não eram as melhores devido ao tombo sofrido.

Ao cair da noite tomamos o trem de volta a Ollantaytambo, e de lá novamente a van que nos deixou na porta do hotel em Cusco. Todos cansados, muitos aproveitaram para dormir tanto no trem quanto na van, se bem que para alguns o desafio do trem foi bem maior, caso do Renan que levou o azar de ter um parceiro de banco americano vestido com muitas roupas, mas que parecia ter pouca afinidade com banhos, o que tornava a vizinhança algo próximo de irrespirável. Pequenas dificuldades dessas aventuras, mas a cara do Renan e das duas mulheres em frente a ele mostravam que a coisa estava preta.

Novamente em Cusco, o jeito foi conseguir um jantar rápido e cair na cama, pois logo na manhã seguinte o rallye recomeçaria, agora para a sua fase fisicamente mais desafiante, e como veremos desinteressante na parte posterior a Porto Velho.

Águas Calientes, a porta de entrada para o santuário de Machu Picchu (foto: Volmir Ferreira)

Renan e Luís no trem, em meio à ansiedade de chegar à Cidade Perdida (foto: Volmir Ferreira)

A viagem de trem é curta, mas passa por lugares deslumbrantes (foto: Volmir Ferreira)

Roberto e Renan, à espera do lanche oferecido pelo serviço do trem (foto: Volmir Ferreira)

Esse bonito rio acompanha grande parte do trajeto do trem (foto: Volmir Ferreira)

A primeira vista, dentre os muitos ângulos de Machu Picchu (foto: Volmir Ferreira)

O grupo na chegada a Machu Picchu (foto: guia peruana)

O caminho é íngreme, mas vale a pena a cada momento (foto: Volmir Ferreira)

A guia peruana se esforça entre explicações e muitas fotos (foto: Volmir Ferreira)

Que tal escalar a montanha ao fundo? Muitos se dispõe a encarar o desafio (foto: Volmir Ferreira)

A cidade atrái turistas do mundo todo, sendo o chamariz do Peru para o mundo (foto: Volmir Ferreira)

Os verdes gramados convidam a sentar e contemplar (foto: Volmir Ferreira)

Uma grande quantidade de guias acompanham os visitantes, em muitas línguas (foto: Volmir Ferreira)

Em alguns locais, a proximidade das encostas chega a assustar (foto: Volmir Ferreira)

Espíritos de porco são universais: veja a garrafa de Gatorade abandonada. Inacreditável! (foto: Volmir Ferreira)

Nessa área de criação dedidada aos animais, muito verde (foto: Volmir Ferreira)

As lhamas são uma atração à parte para os turistas (foto: Volmir Ferreira)

As áreas construídas e de obtenção de matéria-prima mesclam-se no alto da montanha (foto: Volmir Ferreira)

Tantas pedras têm que sair de algum lugar, e o alto da montanha é ótima fonte (foto: Volmir Ferreira)

A cada olhar, um ângulo diferente dessa bela cidade (foto: Volmir Ferreira)

Cortar e polir pedras enormes era uma obra de engenharia que se traduzia em arte (foto: Volmir Ferreira)

Todos acabem precisando descansar, pois o esforço é grande (foto: Volmir Ferreira)

Alguns locais atraem especial atenção dos visitantes (foto: Volmir Ferreira)

Em meio a enormes pedras, um visitante improvável (foto: Volmir Ferreira)

A vista bem do alto, perto da casa do vigilante (foto: Volmir Ferreira)

Acredite, Machu Picchu cansa demais, e nem precisa fazer a Trilha Inca (foto: Luís Lacerda)

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