sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 19 - Em casa, sãos e salvos, só com leves escoriações

Chegamos em Porto Alegre na noite de quinta-feira, dia 29/09/2011, com um dia de atraso em relação ao planejado. Levando em conta todas as dificuldades encontradas, até que foi um atraso razoável.

A partir de hoje começarei a postar os dias faltantes, e na medida do possível as fotos, e assim que conseguirmos organizar todos o material produzido (fotos e vídeos), iremos recuperando e relatando a viagem.

Agradeço a paciência dos que ficaram conosco assim mesmo, e estejam certos que faremos o possível para recompensá-los. E quanto a viagens futuras, terei que repensar a forma de publicação, pois durante a viagem fica realmente difícil, e ainda mais numa viagem que por uma certa megalomania de planejamento se converteu acima de tudo num rallye, outra coisa a ser repensada.

Quanto ao dia, saímos de Cascavel/PR às 06h30, dispostos a estar em casa antes do cair da noite. Infelizmente a estrada pela qual saímos da cidade tinha uma das mais impressionantes coleções de buracos que sequer se poderia imaginar, verdadeiras crateras que me faziam ter vontade de parar a moto e fotografar aquelas verdadeiras obras de arte do descaso dos administradores públicos. Chegando ao cúmulo de vermos quebra-molas marcados por enormes buracos.

Felizmente após Barracão/PR as estradas melhoraram sensivelmente, assim como a paisagem foi ficando mais bonita. Incrível ver o contraste das estradas cheias de curvas dos campos montanhosos do sul do Brasil (PR, SC, RS) com o que vimos junto às estradas de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (retas intermináveis, terreno plano, quase nada para se ver). Ao sair de Barracão, mais uma vez a BMW G650 do Renan teve a corrente caída, e após nova colocação a regulagem chegou ao fim, nada restando a fazer senão substituir a relação mais rápido possível. Felizmente, a moto assim mesmo conseguiria chegar em casa.

Com duas motos tendo GPS, tivemos várias divergências por usarmos mapas diferentes, sendo que um dos mapas funcionava com precisão e o outro se perdia o tempo todo, o que resultou em alguns atrasos desnecessários até Frederico Westphalen/RS, e também depois dessa cidade.

Acabamos nos reagrupando junto à praça de pedágio depois de Lajeado/RS, onde nos despedimos e seguimos para Porto Alegre, Butiá (Renan) e Minas do Leão (Balão), sendo que o Javier já seguira para Caxias do Sul a partir de Estrela.

Por volta das 20h00 chegamos a Porto Alegre, cansados mas felizes por completarmos essa longa jornada com sucesso, apesar de todas as dificuldades, atrasos e desencontros.

No dia rodamos um total de 811 Km, e pelas notas do diário de viagem cobrimos um total de 9.392 Km nesses dezenove dias (sempre pelo GPS, pois o hodômetro das motos marca sempre a mais).

As estradas paranaenses são péssimas, mas com belas paisagens (foto: Volmir Ferreira)

Próximo a Soledade, as belezas do nosso Rio Grande do Sul (foto: Volmir Ferreira)

Mais uma imagem da chegada a Soledade, no norte de RS (foto: Volmir Ferreira)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 18 - No Paraná estradas péssimas, mas menos tédio e calor

Nesse penúltimo dia da viagem, excepcionalmente pudemos dormir até mais tarde, esperando a definição da BMW sobre a G650 do Javier. E se o funcionamento da moto não se mostrou exemplar, pelo menos o serviço de socorro e conserto foi bem eficiente, visto que às 09h00 da manhã a moto estava em frente ao hotel, pronta para seguir viagem sem novas ocorrências.

Já o motivo da parada da moto beirou o inusitado: a bateria estava seca, por absoluta falta de água na mesma. Em princípio entendi que a bateria seria daquelas antigas, não seladas, mas mais tarde, conversando com o Beto (que é mecânico), ele disse que a bateria é selada, e que o que teria sido feito foi uma gambiarra para colocar água numa bateria que deveria ser substituída. Em qualquer caso, situação desagradável para a essa BMW que mostra claras limitações.

Por volta das 09h30 deixamos o hotel, e encaramos uma demorada saída pela parte central de Campo Grande, num dia em que terminaríamos por rodar 637 Km (pelo GPS) até chegarmos a Cascavel/PR. De positivo, nesse dia sofremos menos com o calor, pois quanto mais nos aproximávamos do Paraná mais a temperatura se tornava agradável. Perto de Dourados, mas uma vez nos deliciamos tomando água de côco bem gelada, acompanhada de ótimas goiabas que um vendedor fornecia à beira da estrada.

Só nos aproximamos de Cascavel ao final da tarde, e justo no trecho final e já ao cair da noite, demos de cara com o inferno de muitas estradas do Paraná. Fizemos um inacreditável trecho de 65 Km povoado por enormes crateras e infinitos caminhões, que se mostrou um enorme aperto para quem já estava cansado depois de ter rodado bastante durante o dia. Felizmente, ao chegarmos mais perto de Cascavel pegamos uma via expressa em excelentes condições, o que tornou os últimos 30 Km um passeio agradável em alta velocidade e boas condições de segurança.

Na entrada da cidade em que faríamos o último pernoite, paramos num posto para abastecer, e o Luís foi à caça do último hotel da viagem, e enquanto isso me diverti jogando sinuca com dois irmãos paranaenses que terminavam o dia de trabalho no bar. Foi uma ótima saída para o stress das estradas esburacadas e movimentadas que pegamos.

Depois de muito trabalho devido às escassas opções, acabamos descobrindo um jantar de qualidade numa casa de shows da cidade, e a comida foi excelente, mas rapidamente abandonada para cairmos na cama cedo, já que na manhã seguinte sairíamos às 06h30, para finalmente chegar em casa.

Felimente nesse dia encerramos a parte insuportável da viagem pela parte brasileira, composta de estradas retas, laterais desmatadas e muito calor dia após dia, sem nada de bonito ou interessante para ver. Já na chegada ao Paraná as paisagens melhoram, o terreno se torna menos plano, e apesar de algumas estradas muito ruins, pelo menos a viagem se torna mais desafiante e menos tediosa.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 17 - Escolha: buracos e caminhões ou belas paisagens

Como tínhamos a dica de sair de Cuiabá pela estrada da Chapada dos Guimarães, esperava que isso ocorresse. Mas infelizmente o grupo optou pela estrada normal para Rondonópolis, o que na prática significava obras, buracos e uma infindável quantidade de caminhões. Decisão totalmente estranha, na medida em que perdemos a única oportunidade de ver um local bonito na enorme passagem por território brasileiro.

Aqui pensei seriamente em me separar do grupo e tomar a estrada alternativa, pois uma péssima decisão é tão somente isso mesmo, e não via o menor sentido na opção adotada, mas como minha moto estava em precárias condições, com a relação em fim de vida, acabei abrindo mão e me enquadrando por uma questão de segurança. Mas... vai entender como funciona a cabeça de algumas pessoas.

Logo no estacionamento do hotel a BMW G650 do Javier não pegava de jeito nenhum, exigindo uma ponte de bateria para dar partida. Na saída fomos acompanhados pelo Célio, que nos levaria à saída da cidade, mas ao pararmos no posto, novamente a BMW do Javier não ligava, exigindo nova ponte de bateria.

Saímos de Cuiabá pela estrada rumo a Rondonópilis, que se mostrou um verdadeiro inferno. Uma enormidade de obras, caminhões em velocidades variadas, e um grupo de 5 ou 6 motos tentando fazer ultrapassagens em bloco, o que se mostrava uma opção temerária. Eu e Luís largamos na frente, pois em situações de trânsito pesado qualquer um deveria saber que é melhor ultrapassar separadamente, cada um tomando os cuidados necessários para se livrar dos caminhões, em vez de permanecer agrupados e se expôr a riscos crescentes a cada ultrapassagem.

Rodados 170 Km desde Cuiabá, o Luís parou num posto pois estava sofrendo com o calor. Sinalizei ao grupo para que parassem no mesmo posto, mas optaram por seguir mais 30 Km, pois havia sido combinado parar a 200 Km de Cuiabá. Esse é o tipo de situação em que um planejamento deveria ser tratado como uma base para ação, nunca como uma norma divina, na medida em que parte do grupo seguir fez com que nos perdêssemos. Resultado: levamos cerca de 180 Km e algumas horas para nos reagrupar, com os devidos atrasos provocados por mais uma decisão equivocada.

Nesse meio tempo, a BMW do Renan sofreu queda da corrente, e na recolocação da mesma o Ruy acabou encostando no escapamento da moto e sofreu uma significativa queimadura no braço. E enquanto isso a BMW do Javier teve novas dificuldades para ligar, e parecia piorar continuamente.

Quanto estávamos a 50 Km de Campo Grande, eu e Roberto notamos que parte do grupo ficou para trás, e acabamos optando primeiro por parar e esperar e depois por voltar. Exceção foram Luís e Alexandre, que estavam mais à frente e seguiram diretamente até Campo Grande.

Ao retornar, encontramos o grupo parado na beira da estrada, com a moto do Javier absolutamente morta, nem ponte de bateria adiantando mais. Acionando o serviço da BMW, prometeram um guincho para uma hora depois, e eu e Roberto seguimos para Campo Grande em busca de hotel. Ao chegarmos, Luís e Alexandre já tinham escolhido o Novohotel, com a ajuda de um motociclista da cidade, que os auxiliou a bordo da sua enorme Harley.

Depois de um bom tempo o restante do grupo chegou, sendo que a BMW prometia verificar a moto logo no início da manhã seguinte. Jantamos numa cervejaria próxima do hotel e fomos descansar, nessa que acabaria sendo uma das poucas noites de sono farto da viagem, já que poderíamos dormir até as 08h00 da manhã, na expectativa do que a BMW faria sobre a moto do Javier.

A belíssima Chapada dos Guimarães, que infelizmente perdemos a oportunidade de conhecer (foto: internet) 

Em Mato Grosso, uma infinidade de caminhões povoam as estradas (foto: Volmir Ferreira)

Em Mato Grosso do Sul, algumas raras belas imagens à beira da estrada (foto: Volmir Ferreira)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 16 - Para mais um dia infernal, água de côco

No café da manhã em Comodoro, eu e Alexandre fomos fortemente incentivados por diversas pessoas que estavam no hotel a sairmos de Cuiabá pela estrada que passa pela Chapada dos Guimarães, local reconhecido como um dos mais lindos do Brasil. E ainda teríamos o bônus de evitarmos um longo trecho em obras tomado de caminhões, entre Cuiabá e Rondonópolis.

Deixamos Comodoro bem cedo, para encarar mais um dia de calor infernal na estrada. Depois de algumas horas se tornava quase impossível pilotar, e nesse dia paramos numa barraquinha à beira da estrada, onde conseguimos tomar água de côco bem gelada, o que se mostrou uma excepcional saída para tamanho sofrimento.

Nesse local conhecemos a filha da dona da barraquinha, a loirinha que pode ser vista na foto abaixo, e que enquanto fotografava as motos logo sentenciou: "gostei mais dessa!", apontando para a TDM900 do Roberto. Como prometido, publico a foto dela, que ficou feliz da vida em ver um grupo tão grande de motos frente ao negócio da mãe.

As paisagens de Mato Grosso são desoladas, constituídas de retas enormes acompanhadas de áreas desmatadas de ambos os lados, sendo a terra ocupada por atividades de agricultura e pecuária.

Na chegada a Cuiabá/MT, fomos recebidos pelo companheiro motociclista Célio Furio, que nos auxiliou a encontrar hotel a bordo da sua conservadíssima Honda Varadero. Ao lado do hotel, busquei uma concessionária Honda na tentativa de adquirir nova relação para Hornet, que estava nas últimas, mas sem sucesso: ligaram para diversas concessionárias e oficinas da cidade, e nenhuma delas tinha a relação da moto para pronta-entrega. Imagine o que seria se se tratasse de uma moto rara.

À noite, jantamos na companhia do Célio Furio e do seu amigo Jorge Abech, que nos acompanharam em várias cervejas, e logo em seguida nos recolhemos ao hotel.

Enquanto tomávamos água de côco, a loirinha se apaixonava pela TDM900 do Roberto (foto: Volmir Ferreira)

domingo, 25 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 15 - Calor, muito calor

Como estou escrevendo posteriormente, agora posso dizer que aqui começou o inferno astral da parte final da viagem. Nesse dia nossa intenção seria dormir em Vilhena, na fronteira de Rondônia com Mato Grosso. Entretanto, considerando os atrasos, optamos por rodar um pouco mais, pernoitando em Comodoro/MT (rodando um total de 814 Km pelo GPS).

Esse dia foi incrivelmente difícil, considerando o infernal calor que encontramos em Rondônia e norte do Mato Grosso, e rodar tamanha quilometragem se traduziu num enorme desafio. Com as retas, que pareciam intermináveis, o sono era insuportável, exceto para quem não sofre com isso, caso quase exclusivo do privilegiado Balão, sendo que o Renan chegou a ter que parar na beira da estrada para tentar acordar, e eu também cheguei a dar leves cochiladas. A cada posto muita água na cabeça e nuca, e paradas cada vez mais frequentes para tentar superar o calor, sono e cansaço.

Chegamos em Comodoro à noite, sendo que encontramos um festival gospel na praça da cidade, que fez a trilha sonora do nosso jantar (para o bem e para o mal). Tudo o que fizemos foi jantar e ir dormir no hotel, local onde reencontramos o grupo de paulistas que já havíamos visto no hotel em Purto Maldonado e na fronteira da Bolívia com o Brasil. Comodoro é uma cidade bem pequena, mas onde encontramos um hotel decente, que nos propiciou um bom descanso, apesar dos eventuais pernilongos que insistiam em nos atrapalhar.

sábado, 24 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 14 - Um interessante dia na viagem

O trecho de Rio Branco a Porto Velho (514 Km pelo GPS) foi bastante tranquilo, em muitos casos chegando a ser sonolento. Em determinada etapa da estrada, pegamos um trecho em obras de 10 Km, que felizmente não apresentou maiores dificuldades pelo tempo seco. Mas se estivesse chovendo nesse dia a coisa seria bem diferente, pois tratava-se de um treço de chão batido (nada de cascalho e pedras), e portanto a lama tornaria a experiência bastante penosa.

Na chegada ao Rio Madeira eu e Ruy fomos detidos em mais uma barreira do exército, que exigiu que mostrássemos grande parte da bagagem. Nada demais, e uma atuação necessária, já que segundo o vendedor de passagens para a balsa, cerca de um mês antes a mesma barreira havia apreendido um caminhão com módicos 30 Kg de cocaína na cabine, o que torna fácil entender as motivações da fiscalização.

A travessia da balsa foi tranquila, já que havíamos sido informados da possibilidade de enormes filas de caminhões. E nela ficamos sabendo que logo na sequência existia um excelente restaurante na beira da estrada.

A cerca de 8 Km da balsa encontramos o restaurante Tempero do Sul, mantido pelo simpático argentino Odair Zauza (o Cawboy), motociclista participante do motoclube Viramundo. Fomos muito bem recebidos, e tivemos o único verdadeiro almoço em todos os dias de viagem (exceto os raros dias em que não rodamos). Essa foi uma parada digna de nota, pois foi um dos últimos eventos interessantes da longa travessia em território brasileiro.

Na chegada a Porto Velho, a espera num posto enquanto Ruy e Luís encontravam um hotel foi animada pelas pessoas que se agrupavam junto às motos, inclusive por inusitados passos de forró ensaiados pelo Roberto com uma habitante local.

Após nos instalarmos no hotel, fomos para a casa da Isabel Castro e família, prima do Ruy que nos recebeu com excepcional atenção. Noite interessantíssima, regada a muita cerveja e peixes de diversas matizes, completada por uma sobremesa sensacional, e isso tudo numa casa linda, ampla e muito agradável. Nossos mais sinceros agradecimentos Isabel, pois sem dúvida essa foi uma das ocorrências da parte brasileira da viagem que de forma alguma esqueceremos.

Ao final da noite, descanso para encarar muita estrada, sono e calor no dia seguinte.

Travessia na balsa do Rio Madeira, na fronteira de Brasil e Bolívia (foto: Volmir Ferreira)

Um almoço excepcional, pouco além do Rio Madeira, em Rondônia (foto: Volmir Ferreira)

Javier mostra a jaqueta do amigo Odair Zauza, dono do restaurante Tempero do Sul (foto: Volmir Ferreira)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 13 - Estamos de volta ao Brasil

Hoje saímos de manhã de Puerto Maldonado, ainda no Peru, já que ontem não foi possível chegar a Rio Branco (no Acre) conforme programado, devido a um furo no pneu da BMW do Renan. Além da moto do Balão estar com o "guidão preso", o que hoje o Ruy identificou como tendo soltado dois parafusos que fixavam o painel da V-Strom, e um deles caiu e ficou preso junto à mesa chegando a riscá-la.

Felizmente, com o furo no pneu do Renan fomos obrigados a ficar em Puerto Maldonado, o que fez com que o Balão não rodasse mais, pois a história desses parafusos soltos poderia ter consequências perigosas. Com a recolocação e reaperto dos mesmos, tudo ficou bem com a V-Strom.

Puerto Maldonado é uma cidade muito quente, e saímos de lá sofrendo com isso. Só conseguimos cobrir os mais de 200 Km até Iñapari em quase de três horas de muito suor e uma quantidade inacreditável de quebra molas (em lugares onde havia só 2 ou 3 casas chegamos a ver 4 a 6 quebra molas, e nenhum pequeno). E ao chegar à aduana brasileira perto das 13h00, fomos surpreendidos com uma aviso na aduana brasileira: "fechado das 12h00 às 14h00 para almoço"!

Isso é incrível, pois se trata de uma zona de fronteira numa região marcada pelo tráfico de drogas e armas, e a aduana brasileira estava às moscas. Depois de alguma discussão, concluímos que não havia porque ficar esperando os funcionários voltarem do almoço, afinal estávamos voltando ao nosso país e não se esperava qualquer carimbo no nosso passaporte. Portanto se não havia interesse da Polícia Federal e da Receita Federal em fiscalizar nosso retorno, também não havia razão para perdemos uma hora do nosso tempo esperando pacientemente pelos funcionários.

Então seguimos direto para Rio Branco e tomamos chuva, muita chuva. Nesta região o esquema de chuvas é curioso, pois a chuva vem repentinamente, variando de uma garoa fina a uma chuva muito forte, venta muito, e depois de alguns minutos a chuva termina, e volta o calor de sempre. No fim, tomamos meia dúzia de chuvas, e chegamos no hotel um tanto molhados, pois lá pelas tantas você perde a paciência de colocar/tirar/recolocar a capa de chuva.

À noite jantamos um belo peixe (em várias formas) no restaurante Inácio's, regado a cerveja. E mais uma vez cama, pois amanhã seguimos para Porto Velho, em Rondônia. Considerando os eventos recentes, estamos exatamente um dia atrasados em relação à programação original, e com isso prevemos chegar a Porto Alegre não mais no dia 28, e sim no dia 29.

Esses são problemas de altas quilometragens em estradas que não conhecemos, e quando ocorrem problemas como pneus furados, retentores de bengala estourando, chuva em excesso, tudo vai se acumulando na forma de perda de tempo, e acabamos tendo que optar por reduzir a quilometragem diária em razão de manter a segurança. No total, hoje rodamos 560 Km (pelo GPS).

Machu Picchu - Dia 12 - A bela Rodovia Interoceânica

Hoje saímos cedo de Cusco, depois de chegarmos tarde na noite anterior do passeio a Machu Picchu. Cusco é uma cidade muito grande, e a saída foi um tanto complicada, com pista molhada e motoristas malucos que não dão muita bola para os outros motoristas, e usam a buzina o tempo todo. Não é um trânsito tão louco quanto o de La Paz, mas nem por isso é muito melhor.

Após rodar uns 50 Km, entramos na Rodovia Interoceânica e logo vimos porque tanto falam dessa estrada: ela é mesmo um desbunde! Já nos primeiros quilômetros, muitas subidas e curvas em cotovelo que só podem ser feitas a uns 30 Km/h, até porque na lateral da pista em vez de acostamento o que existe é uma valeta de cerca de meio metro de profundidade. Portanto, se você sair da estrada de moto, carro ou mesmo caminhão, não será surpresa se capotar.

E assim fomos subindo e subindo, até chegar ao ápice de cerca de 4.600 metros de altitude, ponto onde vimos montanhas nevadas, um frio próximo de zero grau, tomamos uns poucos flocos de neve e tiramos muitas fotos. No conjunto, esse trecho inicial da estrada é de uma beleza deslumbrante.

Em seguida, começamos a descer uma estrada semelhante à nossa Serra do Rio do Rastro, só que bem mais longa, com gelo na pista totalmente escorregadia, resultando em muito tempo perdido em nome de manter a segurança.

Mais uma vez tivemos que recorrer à gasolina oferecida em galões pelo morador de uma cidadezinha, pois nessa parte do Peru não existem tantos postos funcionando como seria necessário. Enquanto abastecíamos, um garotinho de uns 2 anos sentou em frente ao Luís no cordão da calçada nos olhando como se fôssemos extraterrestres. Com a permissão da mãe que observava do outro lado da rua, lhe demos algumas guloseimas como bolachas e chocolates, mas foi quando lhe apresentei algumas batatinhas Pringles que o garotinho ficou completamente maluco. Seus olhinhos brilhavam, e parecia que nunca na vida ele tinha comido algo tão maravilhoso, descobrindo desde cedo que pode não ser saudável, mas que é muito gostoso, isso é!

Depois de neve, frio e algum gelo derretido na pista, começamos a descer rapdiamente, em meio a uma vegetação com características da amazônia peruana, quando fomos obrigados a parar para tirar as roupas de frio, pois estávamos quase passando mal pelo calor que se mostrava insuportável. Nesse momento, vimos em quem algumas dezenas de quilômetros a altitude tinha caído de 4.600 para apenas 800 metros, o que explicava a forte diferença de temperatura.

Daí para frente seguimos com muito calor rumo a Puerto Maldonado, numa estrada em perfeitas condições, e coberta por um número enorme de pontes. Curiosamente, a Rodovia Interoceânica é totalmente nova no lado peruano, enquanto no lado do Brasil é emendada com estradas que já existiam, não necessáriamente em perfeitas condições.

Já anoitecendo chegamos a Puerto Maldonado, decididos a chegar ao território brasileiro. Só que o Renan avisou que estava com o pneu traseiro furado, e usou o reparador para tentar sanar o problema. Pneu tratado, fomos para a estrada rumo a Iñapari, mas após apenas 15 Km o pneu da BMW arriou de novo. Após verificá-lo ele encontrou um prego atravessando o pneu, retirou-o e aplicou novo reparador e seguimos mais alguns Km. Quanto estávamos a 30 Km de Puerto Maldonado, novamente o pneu esvaziou.

Acabou que encontramos uma borracharia bem perto (precaríssima, e onde o pessoal falava um dialeto que nem o Javier conseguia entender), que providenciou o conserto do pneu, cuja câmara apresentava um enorme rasgo. Enquanto isso, dois integrantes voltaram a Puerto Maldonado para encontrar hotel, e passamos a noite por lá mesmo em meio a um calor infernal. Tudo o que deu tempo foi de comer uma pizza e tomar algumas cervejas, antes de cair na cama para acordar cedo e seguir viagem.

Com tudo isso as falhas de um planejamento excessivamente otimista vão se acentuando, pois num dia em que deveríamos rodar mais de 1.000 Km, tudo o que conseguimos rodar foram 548 Km (pelo GPS), numa clara demonstração de que planilhas não são tão eficazes em "dobrar" a realidade.

No ponto mais alto da Rodovia Interoceânica, montanhas e neve (foto: Volmir Ferreira)

Quanto as crianças brincam no paraíso (foto: Volmir Ferreira)

Por vento ou vandalismo, nem a placa da rodovia ficou inteira (foto: Volmir Ferreira)

Machu Picchu - Dia 11 - A Cidade Perdida, um lugar inesquecível

Dia de acordar cedo, para estar a postos às 04h40 em frente ao hotel, onde a van nos esperaria para o primeiro trecho da viagem até Ollantaytambo, a cerca de 60 Km de distância, onde tomaríamos o trem para Águas Calientes. Esse trecho da viagem é feito por estradas em boas condições, e vários companheiros aproveitaram para dormir uma boa parte do caminho, apesar do motorista insistir em passar rápido demais sobre alguns quebra-molas.

Em Ollantaytambo tomamos o confortável trem que faz o trajeto até Águas Calientes em cerca de uma hora e meia, juntamente com os três motociclistas de Uruguaina/RS que encontramos no dia anterior. A viagem é tranquila e bonita, com grande parte do trecho tendo um rio acompanhando a ferrovia, e nas encostas das montanhas já se pode ver algumas ruínas que prenunciam o que veremos mais tarde.

Águas Calientes é basicamente uma base de operações para acessar Machu Picchu, tomada de vans que fazem o transporte contínuo dos turistas até o santuário. Existe um hotel na cidade, onde alguns preferem pernoitar, o que permite ver o nascer do sol em Machu Picchu, que dizem ser uma experiência bastante interessante. A cidade tem um forte comércio voltado aos turistas, ainda que a grande quantidade de lojas não se reflita em variedade de produtos, já que praticamente em todas as lojas se encontram os mesmos produtos, num contexto de mínima diferenciação. Os preços são altos para o padrão peruano (baratos para brasileiros), mas a qualquer pechincha os vendedores já saem fazendo abatimentos de 30% ou mais.

Depois de encontrarmos o guia na estação, tomamos a van que faria o curto trajeto ao alto da montanha, uma estradinha de terra não totalmente destituída de emoção. As vans andam rápido, e em alguns momentos param para dar passagem a quem vem no sentido contrário, pois em muitos trechos só passa um veículo por vez. Tudo parece funcionar bem nessa subida de pouco mais de 10 minutos, mas vimos algumas vans com parabrisas quebrados, o que mostra que às vezes algo dá errado. A estradinha é bonita, serpenteando a montanha, e na fase final já somos brindados com a primeira vista de Machu Picchu, da parte mais baixa das encostas, mostrando apenas uma pequena parte das construções.

No alto da montanha encontramos a jovem guia peruana, que pode ser vista nas fotos, que cobria o corpo todo e usava um enorme guarda sol, segundo ela para evitar os riscos da exposição continuada a excessos de protetor solar. Aliás, boné, protetor solar e repelente para mosquitos são itens indispensáveis para essa visita, e até mesmo uma capa de chuva, se bem que nós tivemos sorte de pegar um dia de tempo bom e sem sol em excesso. E o fato de visitarmos o local fora da alta temporada foi positivo, já que a guia confirmou que estavam no local apenas cerca de 40% do normal de visitantes em alta temporada, o que para nós se traduziu num dia tranquilo e sem atropelos.

O acesso ao parque é organizado, sendo necessário apresentar o ingresso juntamente com o passaporte para passar o ponto de controle. E acompanhados pela atenciosa guia peruana, começamos a visita que seria o ponto alto dessa viagem. Aliás a guia era tão prestativa que quase parecia não se incomodar com o excesso de pedidos para as mesmas fotos serem tiradas com 4 ou 5 câmeras diferentes, o que para mim se constitui numa situação repetitiva e desnecessária.

Machu Picchu é um local diferenciado, e que "toca" as pessoas de maneiras diferentes. Existem os místicos, que visitam o local repetidamente, em sucessivos atos de contemplação e meditação. Existem os mais ligados ao contexto histórico e cultural da cidade, para quem conhecer um pouco mais dessa cidade tão fascinante é uma experiência única e inesquecível. E existem ainda os típicos turistas, para quem o que importa são as muitas fotos simplesmente para mostrar, pouco ligando para os aspectos mais profundos do que essa cidade significa, inclusive se vendo cenas curiosas como uma mesma pessoa tirando a mesma foto trocando 4 ou 5 camisetas diferentes, numa situação bem engraçada.

Um exemplo emblemático desse último grupo foi uma frase que ouvi no local: "ah, fulano... mas se não fosse a guia para explicar, realmente isto aqui não passaria de um monte de pedras". Por aí se vê que o fascínio por Machu Picchu muitas vezes está menos na cidade, e mais no interior (ou, no caso, no vazio interior) das pessoas que visitam.

Independente das motivações de cada pessoa, o que sem dúvida se pode dizer é que Machu Picchu é uma cidade incrível, de profundo significado cultural e histórico, e um local que sem dúvida qualquer pessoa deveria visitar ao menos uma vez na vida. As construções são fabulosas, as hipóteses sobre o próposito da existência da cidade são instigantes, e o fato de se saber que seus construtores gastaram tanto tempo e esforço para construir tal obra e pouco desfrutaram dela é intrigante.

Para mim é especialmente interessante tentar imaginar a vida das pessoas que habitavam a cidade no seu tempo, constatar sua engenhosidade aplicada às construções, seu brilhantismo ao tratar questões cruciais como o aproveitamento da água. Tentar entender a lógica da cidade, enxergar a atividade no seu dia-a-dia, imaginar o modo de vida de quem tinha o privilégio de habitar o local. Se bem que obviamente o privilégio de desfrutar era reservado a poucos, pois o trabalho era árduo, e quando a cidade foi desocupada muito ainda faltava fazer. Tanto isso é verdade que os peruanos consideram a cidade eternamente "em construção".

Curioso também é o enorme desafio peruano de equilibrar a significativa fonte de recursos financeiros em que Machu Picchu foi se constituíndo nas últimas décadas, com a inevitável necessidade de preservar esse incrível patrimônio da humanidade. Pois o fato das pessoas poderem andar livremente na quase totalidade do território sem dúvida deixa marcas, inclusive garrafas de Gatorade abandonadas junto às ruínas pelos visitantes mais mal educados. O desgaste é inevitável, e a limitação do número de visitantes e o controle mais rígido dos pontos de visitação fatalmente terão que ser impostos com o passar do tempo, tanto que isso já é uma discussão bastante presente.

Não me estenderei sobre Machu Picchu, por não ter as necessárias credenciais de historiador ou geólogo, e portanto não sendo capacitado a análises mais profundas. Creio que uma boa pesquisa no Google possa trazer várias informações relevantes para quem quiser se aprofundar sobre o tema. Do ponto de vista pessoal, posso dizer que a cidade é apaixonante, principalmente para o visitante que tentar se colocar no lugar das pessoas que lá viveram, em vez de tão somente se preocupar em tirar o maior número de fotos para poder mostrar no retorno, sem saber muito bem porque esteve lá.

A se lamentar, algumas dificuldades de mais ampla mobilidade, o que nesse lugar faz muita diferença, pois conhecer em profundidade Machu Picchu cansa. A cidade é grande, as enormes escadas são desafiadoras e depois de algumas horas você se sente esgotado. Tanto isso é verdade, que no começo da tarde alguns companheiros se entregaram ao verde gramado, tirando uma soneca no alto da montanha, o que sem dúvida se mostrou uma boa ideia.

No decorrer da tarde descemos para Águas Calientes, onde alguns se dedicaram a compras nas lojas, enquanto outros foram tomar um banho nas piscinas da cidade, opção essa que declinei pois envolvia caminhar ainda mais, e minhas condições físicas ainda não eram as melhores devido ao tombo sofrido.

Ao cair da noite tomamos o trem de volta a Ollantaytambo, e de lá novamente a van que nos deixou na porta do hotel em Cusco. Todos cansados, muitos aproveitaram para dormir tanto no trem quanto na van, se bem que para alguns o desafio do trem foi bem maior, caso do Renan que levou o azar de ter um parceiro de banco americano vestido com muitas roupas, mas que parecia ter pouca afinidade com banhos, o que tornava a vizinhança algo próximo de irrespirável. Pequenas dificuldades dessas aventuras, mas a cara do Renan e das duas mulheres em frente a ele mostravam que a coisa estava preta.

Novamente em Cusco, o jeito foi conseguir um jantar rápido e cair na cama, pois logo na manhã seguinte o rallye recomeçaria, agora para a sua fase fisicamente mais desafiante, e como veremos desinteressante na parte posterior a Porto Velho.

Águas Calientes, a porta de entrada para o santuário de Machu Picchu (foto: Volmir Ferreira)

Renan e Luís no trem, em meio à ansiedade de chegar à Cidade Perdida (foto: Volmir Ferreira)

A viagem de trem é curta, mas passa por lugares deslumbrantes (foto: Volmir Ferreira)

Roberto e Renan, à espera do lanche oferecido pelo serviço do trem (foto: Volmir Ferreira)

Esse bonito rio acompanha grande parte do trajeto do trem (foto: Volmir Ferreira)

A primeira vista, dentre os muitos ângulos de Machu Picchu (foto: Volmir Ferreira)

O grupo na chegada a Machu Picchu (foto: guia peruana)

O caminho é íngreme, mas vale a pena a cada momento (foto: Volmir Ferreira)

A guia peruana se esforça entre explicações e muitas fotos (foto: Volmir Ferreira)

Que tal escalar a montanha ao fundo? Muitos se dispõe a encarar o desafio (foto: Volmir Ferreira)

A cidade atrái turistas do mundo todo, sendo o chamariz do Peru para o mundo (foto: Volmir Ferreira)

Os verdes gramados convidam a sentar e contemplar (foto: Volmir Ferreira)

Uma grande quantidade de guias acompanham os visitantes, em muitas línguas (foto: Volmir Ferreira)

Em alguns locais, a proximidade das encostas chega a assustar (foto: Volmir Ferreira)

Espíritos de porco são universais: veja a garrafa de Gatorade abandonada. Inacreditável! (foto: Volmir Ferreira)

Nessa área de criação dedidada aos animais, muito verde (foto: Volmir Ferreira)

As lhamas são uma atração à parte para os turistas (foto: Volmir Ferreira)

As áreas construídas e de obtenção de matéria-prima mesclam-se no alto da montanha (foto: Volmir Ferreira)

Tantas pedras têm que sair de algum lugar, e o alto da montanha é ótima fonte (foto: Volmir Ferreira)

A cada olhar, um ângulo diferente dessa bela cidade (foto: Volmir Ferreira)

Cortar e polir pedras enormes era uma obra de engenharia que se traduzia em arte (foto: Volmir Ferreira)

Todos acabem precisando descansar, pois o esforço é grande (foto: Volmir Ferreira)

Alguns locais atraem especial atenção dos visitantes (foto: Volmir Ferreira)

Em meio a enormes pedras, um visitante improvável (foto: Volmir Ferreira)

A vista bem do alto, perto da casa do vigilante (foto: Volmir Ferreira)

Acredite, Machu Picchu cansa demais, e nem precisa fazer a Trilha Inca (foto: Luís Lacerda)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 10 - De Puno a Cusco, a Cidade Perdida é logo alí

Em mais um dia de baixa quilometragem (apenas 373 Km pelo GPS), partimos pela manhã em direção a Cusco, e já na saída de Puno mais uma surpresinha: nova batida policial, pedido do seguro SOAD (semelhante à Carta Verde, só que válido para o Peru), conversa aqui, insinua multa de 432 soles e retenção do veículo alí, e no fim tudo se resolve com o chefe dos policiais me mordendo em US$ 20,00. Incrível ver o padrão como tudo se resolve no Peru, ainda mais quando a burocracia dá os meios para a corrupção escancarada dos policiais.

Sobre esse seguro SOAD, pelo que sei custa apenas US$ 20,00 mas o problema é que não é fácil fazê-lo, pois as seguradoras brasileiras nem sabem ainda do que se trata. Na sua próxima viagem ao Peru veja se isso já melhorou, pois senão terá os mesmos problemas para resolver com os próprios agentes da lei, e no fim custa mais caro do que levar o seguro necessário. É uma pena essa situação obscura, pois quando a coisa é bem definida como ocorre com a Carta Verde, você faz o que tem que fazer e caso encerrado.

A viagem foi curta e bastante fria, mas marcada por belas paisagens. O Peru agrada o viajante, sem a menor dúvida, apesar dos policiais corruptos. Pegamos muitas obras na entrada de Cusco, que é uma cidade grande, e o GPS teve grande utilidade, nos levando exatamente ao local desejado, em frente ao Hotel Ruínas. Como esse hotel não tinha vaga, ficamos a meia quadra de distância no Hotel 7 Ventanas, novo, de muito boa qualidade e preço atrativo. Cusco tem uma enorme estrutura comercial e hoteleira, sendo fácil se instalar na cidade.

Na chegada o Roberto observou o estouro do retentor de uma das bengalas da TDM900. Enquanto o grupo passeava, eu e Roberto procuramos a concessionária Yamaha da cidade, onde fomos muito bem atendidos pelo proprietário, o sr. Francisco Lucana, e em cerca de duas horas a moto estava em plenas condições para seguir viagem. Curiosamente, o sr. Francisco dizia ter muitos amigos argentinos e brasileiros, mas nenhum chileno, reflexo das antigas brigas territoriais que ainda hoje refletem na população.

Já na chegada no hotel providenciamos a compra dos pacotes para visitar Machu Picchu no dia seguinte, pagando US$ 200,00 por pessoa (consegue-se por US$ 180,00 diretamente nas agências de viagem da cidade, mas como o tempo era curto preferimos não arriscar). E usamos o final da tarde para conhecer a parte central da cidade, típica do modelo de colonização espanhola, tipificado por destruir a cidade pré-existente e construir uma nova cidade, sempre com a Plaza das Armas, museus e catedral. Características típicas da imposição pela força das armas.

Aproveitamos para comprar presentes para a família, e à noite jantamos num restaurante típico peruano, e eu mais uma vez caía de sono à mesa, o que tem sido uma tônica nessa viagem. Nesse hotel, reencontramos um grupo de três motociclistas de Uruguaiana/RS, que já havíamos encontrado antes em Puno, e que seguiriam no mesmo trem para Machu Picchu no dia seguinte. Na sequência, hotel e cama, pois a saída para Machu Picchu seria na madrugada, bem cedinho.

Após deixar Puno, muitas obras, mas no geral as estradas são boas (foto: Javier Palleiro)


Belas e frias paisagens, valendo a parada para algumas fotos (foto: Javier Palleiro)

Uma enorme ferrovia acompanha a estrada, mas não vimos trens, apenas trilhos (foto: Javier Palleiro)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 9 - As ilhas flutantes de Uros

Tiramos o dia para conhecer as ilhas flutuantes de Uros, bem próximas de Puno, que ficam na parte mais rasa do Lago Titicaca que é enorme, e chega a ter 274 metros de profundidade no máximo. São ilhas feitas pela ação humana, construídas com uma base de material semelhante ao nosso xaxim, e recobertas por sucessivas camadas de juncos que dão ao solo uma base macia, bastante cansativa para caminhar muito tempo sobre ela, pois afunda o tempo todo.

Por razões óbvias fumantes não são bem vindos, pois o material das ilhas é altamente inflamável. Tivemos a companhia de um guia que explicou em detalhes o local, afirmando que cerca de 2.000 pessoas vivem nas ilhas, apesar de alguns integrantes do grupo duvidarem que as pessoas efetivamente morem lá. Para alguns, esse é o típico local para turistas, e à noite as pessoas vivem normalmente na cidade. Confesso que não tenho opinião formada sobre isso.

Controvérsias a parte, posso afirmar que sem dúvida vale a pena conhecer Uros. O local é bonito, a construção das ilhas é interessantíssima, inclusive o fato de que as ilhas podem ser divididas e mesmo juntadas, se isso for de interesse dos moradores. Na prática, é possível trocar de vizinhança se algum evento assim exigir. Prático, não?!?

Apesar do guia não fazer questão de falar no assunto, visando manter em alta a tradição, o fato é que os habitantes são bem modernizados. Têm painéis solares, que segundo eles fornece energia para a televisão, possuem armas de fogo rudimentares para a caça, e o mais surpreendente: usam garrafas pet para reforçar a estrutura dos barcos maiores, e suspeito que nas próprias ilhas, o que não deixa de ser um uso altamente ecológico para esse tipo de lixo tão prejudicial ao meio ambiente.

Além da taxa de visitação, os moradores fazem um forte trabalho de promoção do seu artesanato junto aos turistas, que inevitavelmente acabam adquirindo alguma coisa de lembrança do local. E inclusive observamos que a moradora que auxiliava o guia na apresentação era totalmente despachada, inclusive falando inglês fluente com uma turista americana. Se é para fazer, então que se faça bem feito!

No retorno a Puno, um ótimo almoço e dia livre para descansar e conhecer melhor a cidade, o que foi muito bom para recuperar as forças, já que no dia seguinte estaríamos em Cusco, seguindo o objetivo de visitar Machu Picchu. De altamente positivo em Puno o fato de ser fácil encontrar cerveja gelada e café de qualidade, coisas que nossa experiência boliviana nos deixou com certo trauma.

Resumidamente, posso dizer que adorei a cidade de Puno, e esse é um local que sem dúvida vale a pena visitar e ficar dois ou até três dias. Clima agradável, bons restaurantes e comércio em geral, bons preços, alguns passeios a fazer, excelentes hotéis a preços inacreditáveis. Dá para entender a razão pela qual alguns peruanos nos diziam que não dá para visitar o Brasil, pois isso exige "muita plata". Claramente vivemos num país caríssimo, isso é hoje um fato inquestionável.

O Lago Titicaca se divide entre Peru e Bolívia, e tem enormes dimensões (foto: Volmir Ferreira)

Renan se diverte com o artesanato apresentado pelo guia e a nativa (foto: Volmir Ferreira)

A modernidade ecológica das garrafas pet, usadas na estrutura dos barcos maiores (foto: Volmir Ferreira)

Nesses barcos o turista pode viajar de uma ilha para outra (foto: Volmir Ferreira)

Essa é uma ilha pequena, mas existem ilhas enormes no complexo (foto: Volmir Ferreira)

Curiosamente, o passeio de Puno às ilhas nesse barco custa apenas US$ 10 (foto: Volmir Ferreira)

Construções bem acabadas, com o detalhe do painel solar voltado à geração de energia (foto: Volmir Ferreira)

Um sofisticado sistema de marketing promove as ilhas flutuantes (foto: Volmir Ferreira)

Proibido para fumantes, e muitos cuidades na preparação da alimentação (foto: Volmir Ferreira)

Povo simples, mas dotado de um sofisticado esquema comercial para os turistas (foto: Volmir Ferreira)

Essa é uma das maiores ilhas que tivemos a oportunidade de ver de perto (foto: Volmir Ferreira)

Turistas do mundo todo visitam Uros, pois é um lugar realmente inusitado (foto: Volmir Ferreira)

A afluência de barcos é bastante grande, e ao fundo vemos Puno junto às montanhas (foto: Volmir Ferreira)

O fotógrado oficial Luís de vez em quanto também gosta de aparecer nas fotos (foto: Volmir Ferreira)