terça-feira, 20 de setembro de 2011

Machu Picchu - Dia 7 - O valor da Concessionária Honda em La Paz

Acordei muito cedo nesse sábado, disposto a colocar a Hornet em condições de rodar de volta para casa a qualquer custo. Por via das dúvidas, pedi ajuda ao Javier (que é uruguaio) para me acompanhar à concessionária, só para o caso do meu portunhol criar problema de comunicação com o pessoal da assistência. E além disso, o Alexandre resolveu ir junto para comprar alguns itens que precisava, entre eles um capacete, pois havia derrubado o dele em Jujuy e estava em péssimas condições.

Já na saída do estacionamento do hotel, um novo evento desagradável. Preocupado em não atrasar demais, saí pilotando a Hornet com o motor ainda frio, só que a saída do estacionamento tinha uma rampa enorme e muito inclinada. Nem preciso dizer que no meio da rampa a moto quis morrer, e eu no reflexo pressionei o manete de freio dianteiro (que não tinha devido ao tompo), a moto desceu de ré e não consegui acionar o freio traseiro e não tive como segurar, derrubando a moto para a direita, e como nada é de graça ela caiu certinho com a ponta do manete de freio no chão, quebrando no "ponto de ruptura" providencialmente criado pela Honda. Mais um prejuízo a se somar aos demais.

Não bastasse isso, o Alexandre, que estava logo atrás se preocupou em evitar que eu batesse na moto dele e acabou deitando a V-Strom, felizmente sem consequências. Confesso que nesse momento fiquei profundamente irritado, com aquela terrível sensação de que as coisas não param de dar errado, e só tendem a piorar sucessivamente.

Com a ajuda do GPS, apesar de um mapa meia boca da Bolívia, conseguimos chegar a uns 4 Km da Concessionária NoSiglia, a única da Honda em La Paz. A partir daí, o jeito foi o Javier ir pedindo informações, até que finalmente conseguimos chegar à concessionária, cujo endereço é:

NoSiglia Sport Ltda.
Av. Costanera No. 29 (Calacoto) - Zona sur - La Paz – Bolivia
Tel: (591-2)2794904 - Fax: (591-2)2771395
e-mail: nossport@ceibo.entelnet.bo

Com toda a dificuldade em localizar a concessionária, levamos sorte em chegar bem no horário de abertura da loja. Conversando com o mecânico, discutimos as opções para colocar o freio dianteiro em operação, sendo que me parecia a opção mais razoável isolar o disco direito, deixando-o em operação, e retirar o disco esquerdo, que só poderia substituir no Brasil, já que não existem peças para Hornet na Bolívia. Infelizmente o mecânico informou que não teria como fazê-lo, pois não teria como garantir a segurança do procedimento.

Então descobri algo que me deu a ideia de um post específico, que se fizesse eu titularia como "Por que uma concessionária Honda na Bolívia é melhor que qualquer concessionária Honda do Brasil". Explico: no Brasil as concessionárias trabalham exclusivamente no conceito de substituição de peças, certamente por ser mais simples e lucrativo. Não se conserta coisa nenhuma, apenas troca as peças com qualquer problema, e se não tiver a peça se diz algo como "sentimos muito senhor, mas não temos a peça. O único jeito é pedir à Honda, e levará 7, 10 ou 15 dias para chegar". Convenhamos que isso é bem mais conveniente e eficaz para a Honda e suas concessionárias do que para o consumidor dos seus produtos. Já pensou eu ter que ficar duas semanas em La Paz esperando peças? Impraticável.

Aí a grande vantagem de uma concessionária mais modesta que as brasileiras, mas dotada de pessoas dispostas a fazer o necessário para resolver o problema do cliente. Como não tinham peças, o mecânico me apresentou a solução que considerava viável: tirariam o disco de freio, mandariam a um torneiro que o prensaria, de forma a desentortá-lo e recolocá-lo no lugar, para que o tivesse em condições de operação pelo menos para poder fazer os cerca de 6.000 Km que me faltavam até chegar em casa. Garantiram que funcionaria e que não haveria qualquer risco à segurança, e felizmente resolvi confiar neles (o que se mostrou uma opção totalmente acertada no resto da viagem).

Na tornearia precisaram desmontar completamente o disco, inclusive a parte central (dourada) para que o disco fosse alinhado. Fizeram o procedimento, remontaram o disco, e às 14h00 eu estava deixando a concessionária com o freio dianteiro funcionando perfeitamente. Em que concessionária Honda do Brasil eu conseguiria esse tipo de solução? Facílimo responder: em nenhuma! Agradeço à NoSiglia pelo excepcional serviço prestado, pois sem dúvida fizeram um cliente profundamente satisfeito. E vejam que isso bem mais que posso dizer sobre algumas concessionárias Honda de Porto Alegre, às quais abandonei nos últimos meses devido à sua absoluta incompetência (e mesmo má fé de alguns funcionários preocupados excessivamente em lucrar às custas do cliente, mesmo correndo o risco de perdê-lo).

E melhor que isso, lavaram a moto, trocaram o óleo (4 litros), limparam o filtro de ar, ajustaram a corrente, desentortarm o suporte do pedal de câmbio e ainda comprei uma lata de óleo lubrificante para a corrente. Preço total para tudo isso: 100 dólares! Parece piada, mas é toda a verdade. Por essas e outras vemos que vivemos num país de fantasia, onde muitas coisas são mais bonitas, mas por isso mesmo absurdamente caras e funcionando muito pior do que seria sensato esperar.

A nota negativa é que ao deixar a concessionária coloquei o manual original da moto no bolso externo da jaqueta, mas ele não ficou bem fechado e o perdi. Felizmente tenho um PDF, portanto não fiquei totalmente sem manual, mas ainda assim foi uma perda lamentável.

Nessa manhã, enquanto estávamos consertando a moto, o restante do grupo fez um city tour por La Paz, no qual puderam conhecer um pouco mais a cidade, e constatar que a parte central da cidade era muito melhor e mais interessante do que a miserável parte alta onde estávamos localizados. Realmente no local onde ficava a concessionária era fácil perceber que estávamos numa zona nobre, bem diferente do terrível ar de favela da cidade alta. Contraste típico de países com péssima distribuição de renda, coisa que nós brasileiros conhecemos bem.

Na volta ao hotel tive uma demonstração cabal do caótico trânsito de La Paz, uma coisa só comparável aqueles vídeos que vemos no YouTube de cidades da Índia ou do Paquistão. Uma profusão de carros velhos, níveis enormes de poluição do ar, buzinas tocando o tempo todo num caos total, as pessoas furando o sinal, jogando os carros uns sobre os outros. Ano passado, em Salta/Argentina havíamos achado o trânsito bastante perigoso, mas olhando o de La Paz é outro nível, bem próximo do absurdo.

Em meio a esse trânsito, à noite pegamos outro táxi para nos levar ao maior shopping da cidade, e a coisa foi traumática. O taxista era muito bem disposto, exceto por um pequeno problema que parece comum a todos os taxistas: eles não conhecem a cidade em que vivem. Ele saiu andando, andando e andando, até que finalmente percebemos que ele não tinha a menor ideia de onde nos levar.

Então saiu perguntando em um lugar ou outro sem sucesso, até que finalmente chegamos ao cúmulo: na hora do rush, em torno das 18h00, parou no meio de uma enorme rotatória, ligou o pisca alerta, nos deixou dentro do táxi e foi perguntar sobre o shopping numa farmácia. Aí perdemos a paciência e o abandonamos, sendo que o Javier lhe pagou 30 pesos pela corrida, mais por pena ou como compensação pelo esforço, pois realmente a situação era de fazer chorar de tão absurda.

Então saímos andando pela região perguntando aqui e alí, e um policial nos mandava para um lado, um transeunte para outro. Até que abordamos dois rapazes numa praça e esses realmente conheciam o shopping, e com as informações que nos deram pegamos outro táxi, e esse conseguiu nos levar ao destino. O shopping era um luxo para os padrões de La Paz, mas pequeno se comparado aos melhores brasileiros. Pelo menos pudemos fazer pequenas compras e ter um jantal de muito boa qualidade.

Na volta, após as 22h00, outro drama. Pegamos um táxi e pedimos ao taxista que nos levasse à cidade alta, ele saiu andando e depois de muito andar percebemos que não sabia para onde ir, e além de tudo parecia meio surdo ou drogado, pois só balançava a cabeça e não dava muita bola para o que falávamos. Explicamos o caminho e o colocamos no rumo, e então a maior surpresa: quando chegou na base do morro que o levaria à cidade alta ele parou e disse que não tinha como nos levar ao hotel, exceto se pagássemos 150 pesos, pois era noite, lá em cima era outra cidade etc.

Confesso que minha vontade era arrastá-lo para fora do carro e lhe dar uma surra, e não é brincadeira, mas no fim o Alexandre (que carregava muitos dólares no bolso) acabou negociando para pagar 130 pesos e acabamos chegando ao hotel. Portanto, tomar táxi em La Paz é uma situação surreal, e a propósito, lá não conhecem GPS o que contribui demais para piorar as coisas.

No hotel caímos na cama cedo, pois finalmente na manhã seguinte seguiríamos para Puno, já no Peru, e estávamos um dia atrasados em função do "Paro Cívico" do dia anterior e consequente atraso no conserto da moto.

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